terça-feira, 12 de fevereiro de 2008

TGV em Alcobaça NÃO - Ataija de Baixo - Sessão Ambiental - 09/02/2008


O NEALC foi convidado pela associação A.T.A.C. (Amigos da Terra por Amor a Camisola) como orador na sessão de esclarecimento ambiental sobre o polémico traçado do TGV.

Temas abordados:
Os nossos solos, aquíferos, fauna, arqueologia, antropologia, geologia, historia, entre outros.
Convidados:
ADEPA : Associação para a Defesa e Valorização do Patrimonio Cultural Arqueologico da Região de Alcobaça. - Dr. Carlos Mendonça
Eng. Ambiental: Valdemar Rodrigues
Eng. Florestal: Ricardo Moreira
Prof. Historia: António Maduro
NEALC: Núcleo de Espeleólogia de Alcobaça - Espeleólogos: Orlando António e Gabriel Vaz
OIKOS: Associação de Defesa do Ambiente
QUERCUS: Associação Natural da Conservação da Natureza - Dr. José António Gaspar
PNSAC: Parque Natural da Serra de Aires e Candeeiros - Dra. Maria de Jesus Fernandes

O NEALC na sessão ambiental, começou por apresentar qual o objectivo da associação e o trabalho já efectuado pelos espeleólogos do NEALC, na região de Alcobaça desde 2005.

De seguida passou a explicar as suas descobertas e qual o perigo para este tipo de construções em zonas sensíveis como as regiões cársicas, nomeadamente quando estão em risco grutas de carácter especial, como é o caso do Algar Do Louro, e de facto, por várias razões, a nossa maior preocupação prende-se nesta cavidade.
A linha do TGV passa apenas a 300m do Algar.

Excertos do Documento da Sessão Ambiental apresentado pelo Presidente da Direcção do NEALC:

As grutas são um importante meio de transporte de água, água que nos bebemos das nossas torneiras todos os dias.
No vale do Mogo (Chiqueda) existe as nascentes do Rio Alcôa, este rio é abastecido por ribeiras subterrâneas, esta água faz-se transportar até a nascente por canais subterrâneos que são simplesmente as grutas.


Em 2005 descobriu-se novas nascentes no Vale Mogo, através de desobstruções, após estas descobertas, foi possível efectuar mergulhos subterrâneos na tentativa de entrar para zonas mais profundas das cavidades submersas.
A nascente “Poço Suão” (a mais importante do sistema do Rio Alcôa) esta neste momento a ser alvo de desobstruções por parte do NEALC na tentativa de se conseguir explorar as galerias submersas, recorrendo a técnicas de mergulho subterrâneo, espeleomergulho, esta é uma técnica de exploração avançada a qual recorremos para continuar a descobrir redes de galerias subterrâneas, na tentativa de calcular a dimensão dos “depósitos” de armazenagem de água.


O traçado:

O traçado do TGV como está neste momento idealizado para o concelho de Alcobaça, irá afectar importantíssimos valores patrimoniais: ambientais, culturais e históricos desta região.

Em termos de estruturas espeleologicas irão ser afectadas um sem número de cavidades demasiado importantes, cavidades estas, que se desenvolvem em grandes “vazios” servindo de reservatórios e de canais subterrâneos para transporte de água até às nascentes do sistema do Rio Alcôa.
Em termos de morfologia cársica muitos fenómenos estão neste momento a acontecer, existe o perigo real de abatimentos do solo, não sabemos efectivamente a que profundidade isso possa acontecer, mas está a acontecer. Temos em nosso poder, registos de alguns abatimentos que ocorreram a pouco mais de um ano, salientamos o abatimento que aconteceu junto ao IC2, este sumidor tem uma profundidade de 8 metros e uma diáclase (fenda) que se estende para baixo da estrada IC2 com cerca de 1 metro de largura, não sabemos a sua real extensão porque foi entulhada pela entidade responsável da via de tráfego (IEP) Instituto das Estradas de Portugal.

Na realização desta infra-estrutura as cavidades terão de ser preenchidas (entulhadas), caso venha a surgir na altura das obras de fundação alguma gruta que ainda não esteja a descoberto, o que provavelmente venha a acontecer. Esta situação é preocupante para a hidrogeologico local, para além disto esta estrutura poderá ser construída em cima de “vazios” desconhecidos, como o caso das depressões cársicas, designadas de “Dolinas”, que poderão ceder, originando assim um abatimento dos estratos calcários.
Como exemplo claro, temos aqui presente o caso do Algar do Louro que foi afectado por este fenómeno, o Algar fica entre Casal do Rei e Lagoa do Cão, situado a cerca de 300m do traçado. Este abatimento, sabemos que aconteceu a muitos anos, mas esta zona tem imensas Dolinas e o subsolo está em constante mudança morfológica, existe efectivamente o perigo real de abatimento. As Dolinas são importantes estruturas de infiltração das águas que correm para o subsolo e que por sua vez, a água, encontra canais de ligação com as nascentes, que são as nossas grutas.

Está efectivamente em perigo a qualidade ambiental destas cavidades e todo o seu meio envolvente, e em especial a qualidade da água, que é fonte de abastecimento à população. A captação da água de Chiqueda abastece mais de 40.000 habitantes deste concelho.

As grutas são os canos do nosso planeta, são património ambiental importantíssimo, apesar da sua robustez é de uma fragilidade enorme o seu ecossistema natural, uma vez poluídas jamais se conseguirá recuperar.
As serras de Aire e Candeeiros tem a maior reserva de água doce do país, há que preservar este recurso.
As regiões calcárias são zonas riquíssimas em reservatórios naturais de água doce, do qual devemos ter especial cuidado, temos a obrigação de proteger e preservar.
As grutas constituem locais de excepcional interesse geológico e hidrogeológico e têm valor universal do ponto de vista científico, didáctico e patrimonial, pois constituem relevantes vestígios das constantes mudanças do nosso planeta.
As grutas são a oitava maravilha do mundo. Não podemos atentar contra este património natural, património que é de todos e que se manterá por muitos milhares de anos se nós não o perturbarmos.
Á água doce é de uma importância vital a nossa vida, se a poluirmos teremos graves problemas.

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